segunda-feira, 14 de setembro de 2015

AS CRIANÇAS E O CONHECIMENTO MATEMÁTICO

Desde muito pequenas, as crianças entram em contato com grande quantidade e variedade de noções matemáticas, ouvem e falam sobre números, comparam, agrupam, separam, ordenam e resolvem pequenos problemas envolvendo operações, acompanham a marcação do tempo feita pelos adultos, observam e experimentam as propriedades e as formas dos objetos, exploram e comparam pesos e tamanhos, percorrem e exploram diferentes espaços e distâncias, etc. 
Esses conhecimentos, variam, em maior ou menor grau, de acordo com a cultura e o meio social aos quais as crianças pertencem e constituem um bom ponto de partida para novas aprendizagens. Cabe às Instituições de Educação Infantil articular essas experiências extra-escolares com os conhecimentos matemáticos socialmente construídos. 
Para tanto, é preciso organizar situações que desafiem os conhecimentos iniciais das crianças, ampliando-os e sistematizando-os. Atualmente, convivem nas Instituições de Educação Infantil diversos enfoques didáticos apoiados em diferentes concepções, às vezes contraditórias. É preciso considerar que os avanços da ciência fazem surgir novas teorias, que dialogam com as anteriores, proporcionando novos enfoques sobre o ensino, a aprendizagem, o papel da criança, da professora e do conteúdo. 
Uma das práticas frequentes é ensinar os números um a um, seguindo a ordem em que aparecem na série numérica, enfatizando, na maioria das vezes, o seu traçado. Ensina-se um número de cada vez, primeiro o 1, depois o 2 e assim sucessivamente, por meio de propostas que enfatizam a repetição, o treino e a percepção, como: passar o lápis sobre os algarismos pontilhados, colar bolinhas de papel crepom ou colorir os algarismos, anotar ou ligar o número à quantidade de objetos correspondente (por exemplo, ligar o 2 ao desenho de duas bolas). 
Esse tipo de prática se apoia na ideia das crianças aprenderem por repetição, memorização e associação e deixa de lado os conhecimentos construídos pelas crianças no seu convívio social. Nas suas interações cotidianas, as crianças não deixam de se perguntar sobre os números: “que número é esse?”, “como se escreve?”, “qual número vem depois dele?”
Nenhuma criança espera ter seis ou sete anos e uma professora na sua frente para começar a perguntar sobre o uso e funcionamento dos números. Outra prática relativa ao ensino dos números bastante presente na Educação Infantil são atividades visando o desenvolvimento de estruturas do pensamento lógico-matemático. Esse tipo de prática deriva de algumas interpretações das pesquisas psicogenéticas que concluíram que o ensino da Matemática seria beneficiado por um trabalho que incidisse na construção da noção de número pela criança. Desta forma, as operações lógicas e as provas piagetianas foram transformadas em conteúdos de ensino, trabalhados por meio de ações de classificar, ordenar, seriar e comparar objetos em função de diferentes critérios. Graças a numerosas investigações sobre a produção e compreensão de notações numéricas, hoje sabemos que as crianças elaboram conceitualizações próprias e originais sobre os números. 
Quando o sujeito constrói conhecimento sobre conteúdos matemáticos, assim como sobre tantos outros, as operações de classificação e seriação necessariamente são exercidas e se desenvolvem, sem que haja um esforço didático especial para isso. Já não consideramos a conservação do número como pré-requisito para trabalhar com os números. Sabemos que as crianças podem trabalhar diretamente com o número, contando objetos, lendo e escrevendo números, resolvendo situações de comparação, ordenação e reunião de quantidades, sempre em situações significativas, contextualizadas e com sentido. 
Outra hipótese é a de que para trabalhar de forma construtivista em matemática é preciso utilizar material concreto. A professora propõe um problema e convida as crianças a resolvê- lo utilizando pequenos objetos, como palito de sorvete, tampinhas, etc., e só depois representam o cálculo graficamente. Ao propor o uso do material concreto como meio de solução de um problema, a criança é impedida de decidir qual procedimento quer utilizar. Provavelmente, muitas crianças não precisariam recorrer à contagem para resolver o cálculo ou poderiam fazer a contagem com marcas em uma folha ou ainda utilizando os dedos. Outra contradição desse tipo de prática é a ideia das crianças precisarem primeiro passar por uma resolução concreta, depois gráfica e finalmente abstrata. É comum, por exemplo, organizar um jogo de percurso e propor às crianças serem os peões que caminharão sobre o tabuleiro. Na realidade, toda ação física supõe ação intelectual. Sabemos que as crianças não necessitam fazer essa “passagem”. E, ainda, quando a professora oferece como única possibilidade o uso do material concreto, não considera uma das principais características da atividade matemática: ser uma atividade intelectual e não empírica. Então, o que significa ensinar e aprender matemática na Educação Infantil? Partindo do pressuposto das crianças pequenas frequentarem a Educação Infantil para muito mais do que “fazer amigos”, se quisermos melhorar o que fazemos, precisaremos enfrentar o desafio de conhecer e estudar novos conhecimentos didáticos. 

créditos: Priscila Monteiro

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